quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Ana e Pedro



Ela imaginava o céu
E ele um prato de feijão
Ela sonhava acordada
E ele dormia no chão

Ana vivia assutada
Pro tédio não pegá-la de surpresa
Pedro vivia calado

Pedro não tinha tristeza
Ana não tinha certeza

Pedro não tinha nada

Ana adorava drinks
Pedro gostava de bar
Ana vivia na night
Ia a noite ao club
E escondida pensava em "dirty dancing"

Ele ralava coxa
Comia caju e bebia cachaça
Ganhava trocado e pagava barato
Ana sorria sem mais

Ana sorria por graça...

Whisky de graça

Scoth importado
Ana tomava por classe
Pedro bebia desgraça


Pedro trabalhava demais
Brigava demais
Cantava demais
Pedro nunca chorava

Ana nunca perdia
Nunca pedia perdão
Nunca errava em vão
Nunca declarava tesão
Ana sempre sabia o que dizer

Pedro gostava de Ana
Ana pensava em Pedro
Pedro em Copacabana?
Pedro e gravata
E garfo e faca
E jantares de gala
E meias de marca?
Ana no morro descalça?
Ana acordando cedo?
Dormindo sem travesseiro?
Sem nunca mais dançar valsa?

E se Ana e Pedro mudassem o mundo?
E se o mundo mudasse por Ana e por Pedro
E girasse, girasse, girasse...
E se o planeta fosse a terra de Ana e de Pedro?

Pedro e Ana em boteco de classe
Ana e Pedro em Chevete importado
E se o amor fosse feito num barraco encantado
E se o tesão comprasse o tempo...
E se nada disso importasse?
E se nada disso importasse?
E se nada disso importasse?
E se o destino fosse menor que o desejo?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Síntese


Se a flor sempre murcha

E se o amor sempre cessa

Se o vento que vai

Quase sempre regressa

Se a vela que chama

O amor vai depressa

Me ama agora

Que o amor é uma festa

Depois pede aplauso

Que a vida é uma peça

sábado, 3 de setembro de 2011

Elixir da Morte


Sonho em fazer um poema absoluto

A inexorável canção definitiva

Todos os amantes e poetas em luto

Sentindo emudecer a antes arte viva


E ao findar a madrugada de labuta

Amanhece em pranto a esquecida diva

Pois quando já lapidada a pedra bruta

Não forma infinita, mas infinitiva.


Tudo que alcança sua plenitude

Petrifica-se no plano da existência

Sendo final a outrora reticência.


O perfeito é o oposto da virtude

O completo não exige criação

Sendo depois disso toda arte em vão.



domingo, 14 de agosto de 2011

Baudelaire já me dizia é a modernidade...




Porque do cintilar dos postes ao longe?

Porque da dança interminável dos automóveis?

Enquanto os homens passeiam mortos pelas cidades.

Porque da brutalidade do nascer do Sol?

Da melancolia do anoitecer?

Do sexo como medida inversa do desprazer?


Porque da leveza dos semáforos?

Da singularidade harmoniosa de cada edifício

Do tilintar rítmico das buzinas?

Porque do peso estático das árvores?

Do barulho agudo e agonizante dos pássaros

Porque dos bichos passearem tão vivos pela mata?


Porque da pureza quase alcoólica dos ares condicionados?

Da arquitetura quase melodiosa de um notebook

Da poesia que dizem estar escondida em cada jornal?


Cansaram-se das fadas

Querem agora os super-heróis japoneses

Cansaram-se das bananas e mexericas

Preferem agora filas em fast-foods

Não há quem queira saber das plantas

Se há sempre um novo café a se conhecer

Pra que passeios sem destino

Se há agora tantas avenidas que nos levam a lugar nenhum?


Incompreensível a dor dos poetas

A modernidade alivia a todas

Felicidade oral

Injeções de esperança

Um carro que traz alegria

Uma televisão capaz de sonhar por você

O olho a olho virtual


Não plante mais árvores

Há muitos edifícios a serem construídos

Esqueça as frutas

Há pós sintéticos de sabores desconhecidos

Não me venha falar de amor

Os chips estão cada vez mais modernos

Não pense mais nas estações

Pra pele é sempre verão

Pro nariz sempre inverno

Não pense em céu

Nem em inferno

A vida agora é o eterno purgatório

O esperar sem fim, por nada


Enquanto isso,

Passeiem,

Passeiem mortos pela cidade.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Tupi

Hoje eu quero fazer um poema em outras línguas

Uma grande canção faroeste americano

Mas só sei falar de saudade, cachaça e macaco

E o tupi acha o to be um saco!